A palavra “câncer” tem um poder enorme de causar medo nas pessoas. Embora melhorias no tratamento do câncer e avanços em cuidados paliativos signifiquem que a doença nem sempre leva a uma morte inevitável e dolorosa, ela ainda merece nossa atenção, principalmente porque cerca de um em cada três de nós vai ter algum tipo de câncer durante a vida.
No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), as estimativas para o ano de 2012 mostram 518.510 casos novos da doença no país. Os tipos mais comuns são câncer de próstata e de traqueia, brônquio e pulmão para os homens, e câncer de mama e de colo de útero para as mulheres. Câncer de colón e reto é o terceiro mais comum para ambos os sexos.
A doença O Instituto Nacional de Câncer americano define o câncer como uma doença em que células anormais se dividem sem controle e são capazes de invadir outros tecidos.
Nossos corpos contêm mais de 200 tipos diferentes de células, as unidades básicas da vida. Cada uma delas tem funções específicas e está organizada em vários órgãos, como pulmões, fígado, pele e cérebro.
Para manter estes órgãos funcionando, as células crescem e se dividem para substituir outras células à medida que estas envelhecem e morrem. O equilíbrio entre o crescimento e a morte celular é normalmente mantido sob rígido controle por uma rede genética incrivelmente complexa.
Mutações no DNA dos genes que controlam essa rede podem perturbar esse equilíbrio, causando uma acumulação de células em excesso, que formam um tumor.
Se esse tumor se formar em um órgão essencial, tal como o fígado ou pulmões, pode eventualmente crescer o suficiente para comprometer a função desse órgão e nos matar. Mas alguns dos cânceres mais comuns ocorrem em órgãos que não são necessários para nos manter vivos, como seios e próstata. Aqui, os problemas reais geralmente surgem quando as células se disseminam do tumor primário (metástase) para formar tumores secundários em órgãos essenciais.
É incrível pensar que uma mutação em qualquer uma das 100 trilhões de células do nosso corpo é tudo o que é preciso para iniciar um tumor.
Mutações causadoras de câncer podem ser herdadas, ou induzidas pela infecção por bactérias ou vírus (HPV e HIV) ou por fatores ambientais, como amianto, tabagismo e radiação. Mas a maioria das mutações ocorre provavelmente como resultado de danos no DNA, o que é uma consequência do metabolismo celular normal.
É por isso que as estimativas são tão altas e não podemos fugir delas.
Fatores da doença e fatores de risco A complexidade é um dos aspectos mais desafiadores da compreensão do câncer e consequente desenvolvimento de terapias.
Ao nível molecular, esta complexidade pode ser reduzida a um número relativamente pequeno de princípios subjacentes conhecidos como as características do câncer. Mas quanto mais aprendemos sobre o câncer no nível genético, mais compreendemos que a doença de cada pessoa é singular.
Em outras palavras, o câncer não é uma doença única. Mais de 100 tipos diferentes de câncer têm sido descritos utilizando classificações anatômicas – isto é, pelo tipo de órgão ou célula em que são originários (tais como câncer da próstata, de mama, de pele, de pulmão).
Mas as características moleculares comuns (como uma assinatura genética particular) estão emergindo como uma maneira muito mais poderosa para determinar o tratamento adequado para cada paciente.
Esta mudança de paradigma na terapia do câncer está sendo impulsionada pelo sequenciamento genético e projetos genômicos funcionais que nos dão uma visão sem precedentes sobre a doença no nível genético e molecular.
De longe, o maior fator de risco para o câncer é a idade. Simplificando, quanto mais você envelhece, maior suas chances de contrair câncer.
Uma longa lista de fatores de risco genéticos e ambientais foi identificada para vários tipos de câncer, mas muitos desses fatores têm efeitos relativamente moderados. Histórico familiar também é um preditor de risco de câncer, mas mutações hereditárias (tais como BRCA1 para câncer de mama) só foram ligadas a um número relativamente pequeno de cânceres. A obesidade também está emergindo como um fator de risco comum para vários tipos de câncer.
Os esforços de prevenção de câncer têm sido em grande parte ilusórios, com as notáveis exceções da vacina contra o HPV (para câncer de colo de útero) e taxas de tabagismo reduzidas (para câncer de pulmão).
Tratamento Até recentemente, os três pilares do tratamento do câncer eram cirurgia, radiação e quimioterapia. O objetivo de todos os três é o de reduzir a massa tumoral.
O primeiro relatório de cura do câncer através de cirurgia apareceu em 1809. A técnica manteve-se como única ferramenta eficaz disponível contra a doença até a primeira metade do século 20.
Mastectomia radical para câncer de mama – ainda uma das influências mais profundas sobre cirurgia de câncer – foi realizada pela primeira vez em 1894.
O tratamento de radiação foi usado pela primeira vez para curar câncer de cabeça e pescoço em 1928. Tanto a radioterapia quanto a quimioterapia trabalham visando as células cancerosas que se dividem rapidamente com radiação ou substâncias químicas tóxicas, respectivamente.
Mas efeitos colaterais ocorrem quando células normais e saudáveis são inadvertidamente alvejadas. As células que revestem o intestino, por exemplo, e folículos pilosos também se dividem rapidamente e, muitas vezes, são vítimas de danos colaterais.
Desenvolvimentos mais recentes em terapia contra o câncer vêm na forma de imunoterapia, que utiliza anticorpos ou estimula partes do sistema imunitário para ajudar a combater o crescimento de tumores, bem como tratamentos desenhados especificamente para anormalidades moleculares relacionadas com as características do câncer.
Exemplos notáveis de imunoterapia incluem o uso de Herceptin no tratamento de câncer da mama, e Glivec para o tratamento de alguns tipos de leucemia. Mas remédios eficazes não são tão comuns, por isso não se deixe enganar por um vendedor de óleo de “não-sei-o-quê” e outras curas não comprovadas. Tudo, de café a uma dieta alcalina, tem sido apontado como uma cura para o câncer, mas a ciência não apoia tais afirmações.
A melhor notícia é que estamos começando a vencer esta doença. E, para alguns tipos de câncer, como câncer testicular e tipos específicos de leucemia, já podemos tratar efetivamente a maioria dos casos.
Sobrevida em cinco anos para todos os tipos de doença tem aumentado significativamente nos últimos 20 anos (de 47% em 1982-1987 para 66% em 2006-10), mas esses ganhos não foram consistentes em todos os tipos de câncer.
Mais avanços no diagnóstico e tratamento da condição provavelmente continuarão empurrando as taxas de sobrevivência de câncer para cima.
O surgimento da medicina personalizada também tem o potencial de alterar completamente a maneira como o câncer é tratado. É provável que nós transformemos o câncer em uma condição gerenciada e tratada como uma doença crônica, de modo que, no futuro, as pessoas morram com, em vez de por causa de, câncer.[
MedicalXpress,
INCA]