segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CÂNCER DE COLO

Dr. Gilberto de Paiva Lopes
Ginecologista / Obstetra



O câncer de colo uterino é o câncer mais comum entre as mulheres no Brasil, correspondendo a aproximadamente 24% de todos os cânceres. Pode ser de vários tipos, pré-invasora: NIC (neoplasia intraepitelial cervical), geralmente assintomático, mas facilmente detectável ao exame ginecológico periódico (preventivo de câncer).

Os principais fatores de risco (que favorecem) o câncer de colo uterino são:
1-
baixo nível sócio-econômico
2-
precocidade na primeira relação sexual
3-
promiscuidade (múltiplos parceiros)
4-
parceiro sexual de risco
5-
Multiparidade
6-
primeira gestação precoce
7-
Tabagismo
8-
radiação prévia
9-
infecção por papilomavírus(HPV)
10-
herpes vírus
Prevenção
A prevenção do câncer de colo uterino passa por cuidados e informações sobre o uso de preservativos, a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e a orientação sexual desestimulando a promiscuidade. A nível secundário de prevenção está o exame ginecológico periódico.
O quadro clínico de pacientes portadoras de câncer de colo uterino pode variar desde ausência de sintomas (tumor detectado no exame ginecológico periódico) até quadros de sangramento vaginal após a relação sexual, sangramento vaginal intermitente, secreção vaginal de odor fétido e dor abdominal associada com queixas urinárias ou intestinais nos casos mais avançados da doença.
O diagnóstico é predominantemente clínico. A coleta periódica do exame citopatológico do colo uterino (também chamado de exame pré-câncer ou Papanicolau) possibilita o diagnóstico precoce tanto das formas pré-invasoras (NIC) como do câncer propriamente dito. No exame ginecológico rotineiro, além da coleta do citopatológico, é realizado o Teste de Schiller (coloca-se no colo do útero uma solução iodada) para detectar áreas não coradas, suspeitas. A colposcopia (exame em que se visualiza o colo uterino com lente de aumento de 10 vezes ou mais) auxilia na avaliação de lesões suspeitas ao exame rotineiro e permite a realização de biópsia dirigida (coleta de pequena porção de colo uterino) e conização, para estadiamento da lesão, fundamental para o estadiamento do câncer.  
Estudos recentes têm demonstrado que o HPV pode ser precursor de lesões cancerígenas, já sendo utilizado uma vacina para prevenção, a vacina quadrivalente para os tipos: 6 ,11, 16 e 18

Tratamento

Nas pacientes com diagnóstico firmado de câncer de colo uterino é necessária a realização de exames complementares que ajudam a avaliar se a doença está restrita ou não ao colo uterino: cistoscopia, retossigmoidoscopia, urografia excretora e, em alguns casos, a ecografia transretal.
O tratamento das pacientes portadoras desse câncer baseia-se na cirurgia radical e radioterapia. A quimioterapia tem sido empregada em protocolos de pesquisa. O tratamento a ser realizado depende das condições clínicas da paciente, do tipo de tumor e de sua extensão. Quando o tumor é restrito ao colo do útero os resultados da cirurgia radical e da radioterapia são equivalentes.
O tratamento cirúrgico consiste na retirada do útero, porção superior da vagina e linfonodos pélvicos. Pode ser realizada via abdominal ou via vaginal com laparoscopia. Os ovários podem ser preservados nas pacientes jovens.
O tratamento radioterápico pode ser efetuado quando o tratamento cirúrgico for contra-indicado e nos demais casos. Nas pacientes com envolvimento da bexiga e/ou reto a ra- dioterapia pode preceder à cirurgia.

Dr. Gilberto de Paiva Lopes
Ginecologista / Obstetra
Coordenador técnico do setor de ginecologia e obstetrícia do HINJA

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Tabagismo – Da Glória a Decadência


No início do século passado, o fumo era pouco popular como forma de prazer, seu consumo era restrito a cerimônias religiosas tribais e indígenas no continente americano como parte de rituais onde o seu papel não se vinculava ao prazer.

A partir de 1920/30 o consumo passa a aumentar de forma exponencial, a indústria do tabaco começa a patrocinar o cinema e os grandes astros de Hollywood. Até hoje é possível rever clássicos do cinema em que o galã, a mocinha e até o bandido fumavam, como no filme Casablanca e, por incrível que pareça, até o marinheiro Popeye fumava!

A indústria do tabaco foca na juventude ligando fumo à liberdade e à independência, de tal forma que década após década, o tabagismo avança de forma exponencial.

Aparecem no começo, poucos indícios de seus malefícios, como descompensação pulmonar em portadores de asma, porém, como a população que mais fumava sempre foi a jovem, as associações do tabagismo com diversas patologias eram difíceis de se provar.

Com o avanço da ciência e da medicina, a expectativa de vida começa a aumentar, mostrando que o tabagismo a longo prazo causa graves problemas de saúde. No mundo,  tabagismo é considerado a principal causa de  doença.  Matou prematuramente 5 milhões de americanos no ano 2000. Anualmente é responsável por 400 mil mortes só nos EUA.

No Brasil, o cigarro provoca um prejuízo anual para o sistema público de saúde de pelo menos R$ 338 milhões, o equivalente a 7,7% do custo de todas as internações e quimioterapias no País. O cálculo, feito pela primeira vez no Brasil, considerou o gasto com hospitalizações e terapias quimioterápicas em pacientes de 35 anos ou mais, vítimas de 32 doenças comprovadamente associadas ao tabagismo no ano de 2005. Estima-se que 22,4% da população brasileira fumem.

No resto do mundo a mesma história se repete...

A fumaça do cigarro é uma mistura de aproximadamente 4.720 substâncias tóxicas diferentes, que se constitui de duas fases fundamentais: a fase particulada e a fase gasosa. Na fase gasosa é composta, entre outros, por monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína. A fase particulada contém nicotina e alcatrão. Essas substâncias tóxicas atuam sobre os mais diversos sistemas e órgãos, contém mais de 60 cancerígenos, sendo os principais citados abaixo:

• As substâncias tóxicas do cigarro

Nicotina – É a causadora do vício e cancerígena;
Benzopireno – Substância que facilita a combustão existente no papel que envolve o fumo;
Substâncias radioativas – Polônio 210 e carbono 14;
Agrotóxicos – DDT;
Solvente – Benzeno;
Metais Pesados – Chumbo e Cádmio (um cigarro contém de 1 a 2 mg, concentrando-se no fígado, rins e pulmões, tendo meia-vida de 10 a 30 anos, o que leva a perda de capacidade ventilatória dos pulmões).
Níquel e Arsênico – Armazenam-se no fígado e rins, coração, pulmões, ossos e dentes resultando em grangrena dos pés, causando danos ao miocárdio.

Várias doenças comuns no nosso dia-a-dia guardam relação direta com o tabagismo, entre ela diversos tipos de cânceres: boca, língua, orofaringe, laringe,  esôfago, estômago, intestino, bexiga, pulmão, rim, fígado, pâncreas, colo de útero, leucemia, ou seja, está relacionado a 60% dos casos de cânceres diagnosticados no Brasil, e no mundo.

E se não bastasse, é fator de risco importantíssimo para o surgimento do mal do século: as doenças cardiovasculares ateroscleróticas (as principais: acidente vascular encefálico – derrame e o infarto agudo do miocárdio – ataque cardíaco).

No Brasil, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte todos os anos, isso sem falar do exército de pessoas sequeladas em consequência de derrames e infartos com qualidade de vida comprometida.

O tabagismo também é responsável por surgimento e agravamento de várias doenças pulmonares, entre elas a DPOC, conhecida popularmente como bronquite crônica, enfisema pulmonar e as crises asmáticas. O pulmão é gravemente atingido porque o desenvolvimento pulmonar se completa aos 25 anos – idade em que muitos jovens estão fumando há mais de 5 anos.

A osteoporose, que é um pesadelo  entre as mulheres, também é agravada pelo tabagismo.

Vale ressaltar ainda que o fumo durante a gestação é causa de aborto espontâneo e do baixo peso da criança ao nascimento.

O pior de tudo é que todos estes riscos citados ocorrem também no fumante passivo. Isso mesmo, você que fica ‘fumando’ indiretamente pelo simples fato de conviver com quem fuma.

A absorção da fumaça do cigarro por aqueles que convivem em ambientes fechados com fumantes causa:

1)    Em adultos não-fumantes:
•  Maior risco de doença  por causa do tabagismo, proporcionalmente ao tempo de exposição à fumaça;
• Um risco 30% maior que câncer de pulmão e 24% maior de infarto do coração do que os não-fumantes que não se expõem.
2)    Em crianças:
• Maior frequência de resfriados e infecções do ouvido médio;
• Risco maior de doenças respiratórias como pneumonia, bronquites e exacerbação da asma.

3)    Em bebês:
• Um risco cinco vezes maior de morrerem subitamente sem causa aparente (Síndrome da Morte Súbita Infantil);
• Maior risco de doenças pulmonares até um ano de idade, proporcionalmente ao número de fumantes em casa.

Medidas Governamentais

Algumas empresas criaram programas anti-tabagismo pagando tratamento médico e psicológico, porém, no final de determinado prazo, todos funcionários fumantes que mantiveram o vício são convidados a sair da empresa.

A organização Mundial da Saúde (OMS) escolheu o tema “juventude livre do tabaco” para a celebração do Dia Mundial sem Tabaco 2008, comemorado no dia 31 de maio.
O tabagismo é considerado pela OMS uma doença pediátrica, pois a maioria dos fumantes experimenta seu primeiro cigarro e se torna dependente antes dos 18 anos de idade. Por serem os jovens mais vulneráveis às estratégias de propaganda e marketing desenvolvidas para captar novos consumidores, observam-se números preocupantes: cerca de 100 mil jovens começam a fumar todos os dias.

O Dia Mundial Sem Tabaco oferece uma grande oportunidade para propor reflexões sobre o consumo do tabaco para toda a sociedade brasileira, sobretudo para profissionais de saúde e de educação, formuladores de políticas públicas e legisladores brasileiros.

Pare de Fumar!

Desde de dezembro de 2000, medidas governamentais vêm sendo duras no combate à propaganda e divulgação do cigarro, praticamente proibindo qualquer tipo de vinculação de bem-estar e sucesso ou mesmo esporte ao tabagismo. Além disso, fumar em alguns lugares públicos é proibido e sujeito a constrangimentos cada vez mais frequentes. Parar de fumar durante muitas décadas dependia exclusivamente da vontade da pessoa que fuma. Hoje, existem inúmeros métodos e medicamentos disponíveis para ajudar o fumante a largar definitivamente o vício.

A melhor maneira de saber é procurando o seu médico ou um especialista e perguntando como se tratar ou ajudar uma pessoa que é importante para você, a parar de fumar.


As estatísticas revelam que os fumantes comparados aos não fumantes apresentam um risco:
• 10 vezes maior de adoecer de câncer de  pulmão.
• 5 vezes maior de sofrer infarto.
• 5 vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar.
• 2 vezes maior de sofrer derrame cerebral.

Se parar de fumar agora
• Após 20 minutos, sua pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.
• Após 2 horas, não tem mais nicotina no seu sangue.
• Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza.
• Após 2 dias,, seu olfato já percebe melhor os cheiros e seu paladar já degusta a comida melhor.
• Após 3 semanas, a respiração fica mais fácil e a circulação melhora.
• Após 5 a 10 anos, o riso de sofrer infarto será igual ao de quem nunca fumou.

Quanto mais cedo você parar de fumar, menor o risco de se dar mal. Quem não fuma aproveita mais a vida!

* Dr. Sérvio Paixão é Cardiologista